quarta-feira, 29 de julho de 2009

uma entrevista

WANDA STUART LEVA PORTO NO CORAÇÃO DE “PIAF”

Escrito por Cristiana Maia
Segunda, 13 Julho 2009 09:10
Conhecem-na, na rua, como a “cantora do cabelo azul” e, após largos anos de luta pelo reconhecimento e ascensão, hoje diz-se feliz por estar em palco, local onde ganha vida e de cima do qual não deseja sair.
Com quase 27 anos de carreira artística, e já com o cabelo completamente preto e encaracolado, Wanda Stuart é “Piaf” no Teatro Rivoli, no Porto, dos quais se irá despedir já no próximo dia 5. Gostaria de ficar por mais uns dias, não esconde as saudades do público portuense e não tem medo de afirmar estar a vestir o papel da sua vida. A cantora e actriz, que começou por cantar em bares para pagar os estudos musicais, que diz ter uma relação “sui generis” com Filipe La Féria e que não esconde das câmaras o amor à pequena Eva, de cinco anos, e ao marido que os Açores lhe revelaram, também não tem papas na língua quando a hora é a de lamentar as dificuldades da vida artística em Portugal: “Não me posso queixar de falta de trabalho”, admite, ainda que em Portugal, os apoios à música portuguesa “não sejam tantos quanto se quer fazer crer”.
Onde é que nasceu?
Em Lisboa, nos Olivais Norte. Sou filha de uma família grande, o meu pai era oficial do Exército, a minha mãe dona de casa.
Não foi para o Colégio Militar?
Não, graças a Deus. Tive um irmão no Exército, mas tudo o que é regime militar não me agrada. E lá em casa também era regime militar?
Um pouquinho, até porque éramos bastantes filhos e tinha que haver alguma disciplina, senão era a anarquia total. Mas o meu pai, que infelizmente já não está entre nós, era uma pessoa bastante rigorosa. Era uma pessoa do Norte, de Espinho, aonde eu passava as minhas férias de Verão. Tive uma infância bastante feliz. Nos Olivais brincávamos na rua sem problemas de maior e isso traz uma experiência que hoje em dia as crianças das grandes cidades não podem usufruir. Isso ajudou-me bastante na peça da “Piaf”. Na primeira fase da vida dela, ela é uma miúda de rua, uma espécie de “maria rapaz”. E isso ganha-se a brincar na rua com os outros meninos. Fui buscar um pouco da minha garotice à minha infância. Claro que o texto não é o mesmo, porque a vida não era a mesma e graças a Deus. Não invejo a sorte dela. Prefiro não ser conhecida no mundo inteiro, mas ter uma vida bem diferente daquela que ela teve.
Fez escola nos Olivais?
Sim, até ao 12º ano. Depois fui para o centro de Lisboa e durante dois anos fiz o 10º e 11º ano no horário da manhã. À tarde, estudava o ensino gregoriano em Lisboa e, à noite, cantava em bares para pagar os estudos da música. Era tudo muito mais difícil do que é agora, com os pais que quase obrigam as crianças a serem artistas. E os seus pais apoiavam a sua paixão pela música?
Passei alguns maus bocados com o meu pai em relação a isso. Hoje em dia eu compreendo mas, na altura, com 15 anos, eu queria lá saber que o meu pai não quisesse. Nem sequer entendia o porquê do “não” do meu pai e tanta relutância em aceitar que eu fosse cantora. Mas isso também se devia à educação que ele teve, ao facto de ser militar, à opinião que antigamente as pessoas tinham sobre as cantoras. Hoje em dia já não, já é bonito ser-se artista. Antigamente tínhamos que lutar, muitas vezes contra as nossas famílias, para podermos seguir o sonho de ser artista. No meu caso, tinha o meu pai contra, mas toda a família apoiava. Portanto, havia ali um “complot” feito a meu favor. Mas isso também só durou até ao dia em que ele me foi ver a cantar. Foi uma reacção que eu não estava à espera. Eu estava a cantar num hotel e ele apareceu com o meu irmão, no Algarve. Imaginem o meu pânico, mas a coisa depois deu-se bem e ele até acabou por ir dançar com uma turista e a noite acabou muito bem. Entretanto, foi-me ver à “Maldita Cocaína”, já o facto estava consumado, já ele tinha aceite que eu seria artista, e pela primeira vez chamou “trabalho” àquilo que eu fazia e disse para eu não abandonar porque já tinha percebido aquilo que eu gostava que fazer, que eu era boa naquilo que fazia. Depois tive umas palavras amigas da Simone de Oliveira, da Manuela Maria, do Ruy de Carvalho a dizer ao meu pai que a filha era talentosa. Tive assim uma “ajudinha extra” dos meus queridos colegas que, para mim, sempre foram uma grande referência e com quem eu tive o prazer de trabalhar.
La Féria: uma relação sui generis.Quando é que surge Wanda Stuart nos espectáculos de Filipe La Féria?
Em 1991 comecei a fazer a “Grande Noite”, um tremendo êxito da RTP, ao qual se seguiu a “Maldita Cocaína”, na reabertura do Teatro Politeama, em que eu fazia o papel de Eva, já com algum destaque. Esse foi o meu primeiro protagonista no teatro musical. Depois seguiu-se o programa “Cabaret”, também na RTP, na linha da “Grande Noite” e mais uma peça chamada “De Afonso Henriques a Mário Soares”. Isto até 1995. Depois eu saí da companhia porque comecei a produzir os meus próprios espectáculos. O primeiro chamava-se “Wanda Sonora Wanda Stuart”, em que eu interpretava várias actrizes que cantaram no cinema e abarcava desde Marilyn Monroe a Carmen Miranda, várias cantoras actrizes. Continuei a produzir os meus próprios espectáculos. Em 1999 vou para o Brasil trabalhar com o senhor Wolf Maia, que é o “Filipe La Féria” de lá. Portanto, eu posso dizer que já trabalhei com os melhores, pelo menos cá e no Brasil e co-produzi, com o Wolf Maia um espectáculo que se chamava “Fénix e Stuart”. Aí, eu tinha um guarda-roupa que caiu muito em graça no senhor Wolf Maia. Eu era vestida pelo Zé Carlos e ele gostou tanto do meu guarda-roupa que disse “tens que usar tudo o que tens aí”. Então arranjamos um cantor tenor para fazer o espectáculo comigo, que era o Fénix, tinha uma voz lindíssima muito ao género do Nuno Guerreiro e do Edson Cordeiro e protagonizamos lá um espectáculo que, graças a Deus, esteve três meses com casa lotada.
E quando é que se deu o regresso a Portugal?
Após esses espectáculo, voltei e fui logo convidada pelo senhor Filipe La Féria para fazer alguns espectáculos com ele, inclusive o “Amália”, que não cheguei a estrear porque entrei em divergências com ele, mas isso já está resolvido.
Divergências?
Eu e o Filipe temos uma relação muito sui generis. Nós gostamos tanto um do outro e às vezes somos tão parecidos um com o outro que chocamos. Mas a admiração que temos pelo trabalho um do outro é tão grande que conseguimos sempre superar isso. São “brigas de casal” que nós temos. Uma relação “amor-ódio” (risos). Mas, na realidade, não cheguei a estrear o “Amália”. Continuei a produzir os meus espectáculos, voltei a trabalhar com o Filipe precisamente na reabertura do Campo Pequeno, em 2004. Foi um grande espectáculo produzido por ele. Participei também na “Gala das 7 Maravilhas”, também no Campo Pequeno, a qual tive a honra de abrir e encerrar e depois seguiu-se a “Música no Coração” e, agora, a “Piaf”.
Mas também foi fazendo espectáculos da sua autoria…
Sim, entretanto fiz espectáculos meus, feitos e produzidos por mim, gravei o meu CD “Animais Nocturnos”. O ano passado fiz o espectáculo dos meus 26 de carreira, no Teatro Tivoli. Fiz ainda o espectáculo que me levou aos Açores, onde conheci o meu marido, com “Os Grandes Mestres do Musical Americano”, o João Pereira Bastos no comando das operações, no Teatro São Luís, em Lisboa. E eu tenho o prazer de olhar para trás na minha carreira e orgulhar-me de tudo o que fiz porque foram coisas com muita qualidade e, às vezes, com algum sofrimento, porque nada do que se tem feito se faz sem muito trabalho. Às vezes tomei opções de não aceitar certos trabalhos que eu achei que não teriam a ver comigo. E isso permite-me olhar para trás e ter um orgulho enorme nos meus quase 27 anos de carreira.
Os dados que indicam que Wanda Stuart se tenha revelado na “Maldita Cocaína”, então, não correspondem à verdade…
Eu penso que a “Grande Noite”, para mim, foi uma grande aprendizagem e deu-me a possibilidade de aceitar um desafio com mais relevância, daí eu ter dito que foi o meu primeiro protagonista no teatro musical. Durante o programa havia um elenco fixo, do qual eu fazia parte, mas nós tínhamos vários convidados que, às vezes, por alguma razão, não apareciam no dia da gravação ou telefonavam a dizer que não podiam ir e isso foi fazendo com o que o Filipe me “obrigasse” a saber os papéis de toda a gente. Eu fui a “pronto-socorro”. Eu agradeço isso mesmo porque impediu-me de, hoje em dia, pensar que não hei-de conseguir alguma coisa. Deu-me uma tarimba muito grande, mesmo a nível de memória. Nós fazíamos dois trabalhos por semana onde aprendíamos canções e letras novas, coreografias, textos. E eu acabava de gravar e parecia que me tinha esquecido de tudo porque a minha cabeça estava já a pensar no que tinha que fazer a seguir. Hoje em dia, tenho uma memória fantástica, em que decoro textos com uma rapidez extraordinária. Fui ganhando destaque, experiência e quando veio a “Maldita Cocaína”, o Filipe La Féria achou que eu já estava preparada (e estava, de facto), e deu-me um papel com algum destaque em palco. A Eva já era um papel com bastante relevância e posso dizer que foi nesse espectáculo que eu apareci com algum destaque no teatro musical.
Quando fez a “Grande Noite” tinha 23 anos. Antes dessa idade, o que é que tinha feito?
Muita coisa já. Eu comecei por cantar em bares. Fiz aquela escola que alguns cantores faziam. Hoje em dia já não se faz tanto porque já não há tantos bares com música ao vivo. Eu comecei a cantar em bares, hotéis e casinos em 1985.
Tem alguma formação na área da música?
Eu fiz a escola do Instituto Gregoriano de Lisboa, mas não terminei o curso. Tive canto gregoriano, aprendi latim, solfejo, história da música.
É religiosa?
Sou. Não frequento a igreja habitualmente, muito menos as missas. Não acredito muito nesta versão de igreja, mas acredito em Deus e tenho muita fé. Aliás, eu acho que só se pode ser actor neste país se se tiver muita fé (risos). E Deus ajuda-me bastante ao longo da minha vida. Não tenho razão de queixa
Quem é que a “tirou” dos bares?
Um dia, estava a fazer uma peça para a RTP, em que conheci o João Baião, e ele andava a montar um espectáculo para apresentar precisamente em bares, com a Maria Rueff. Entretanto, eu levei-os para o circuito dos bares, que já conhecia e, a estilo de “paga”, o João disse-me que iam haver audições para a “Maldita Cocaína”. Foi assim que conheci o Filipe, fiz uma audição que o Filipe já disse que nunca esquecerá na vida dele, porque talvez tenha sido das mais audazes que ele viu, e gostou tanto ou tão pouco da minha audição que, quando eu fui agradecer ao Baião a ajuda, já estava o Filipe a escrever coisas para mim. Mas, até lá, já tinha feito os espectáculos em bares, fiz alguns espectáculos de televisão, algumas séries de episódios para a RTP. Trabalhei bastante até chegar ao Filipe, mas teatro nunca tinha feito.
Wanda Stuart, a cantora
A música acompanhou-a sempre. Acabou mesmo por editar um álbum.
Sim, em 2004 fiz um álbum com o Fernando Girão, um dos melhores compositores, bateristas e poetas vivos portugueses. É um CD feito à minha medida.
Foi o primeiro?
Sim, primeiro e único até agora. Participei noutros CD’s com outros cantores, com orquestras. Mas, a título particular, foi o meu único trabalho a solo porque infelizmente, neste país, não se apoia assim tanto a música portuguesa como se quer fazer crer. Fui eu que paguei este meu CD e quando eu fui com ele bater à porta de algumas editoras, todas elas me disseram que não. Só quando entrei na “Academia dos Famosos” e comecei a mostrar, todas as semanas, um tema do CD, aí começaram-me a aparecer todas as editoras. Portugal é um país bastante curioso em relação aos artistas. O CD não teve a distribuição como eu gostaria que tivesse. Esgotou a primeira distribuição, mas depois não sei se a editora voltou a repor. Eu sei que os que foram postos à venda desapareceram. Eu sei que tive óptimas críticas mesmo de pessoas estrangeiras. Eu tive o elenco todo do “Cats” a ver o meu espectáculo. Esse CD serviu como base para um espectáculo do género music all que eu apresentei no casino Estoril e depois no Politeama.
O disco chamava-se “Animais Nocturnos” porquê?
Porque eu, durante anos, vivi durante a noite. Os trabalhos eram feitos à noite, cantava em discotecas, em bares. O próprio teatro é nocturno. Durante vinte anos eu frequentei a noite e foi uma homenagem a quem vive da noite, aos vários “animais nocturnos”. PIAF: “Não há comparação possível entre mim e a Sónia Lisboa”O que é que estava a fazer há quatro meses atrás?
Há quatro meses atrás estava a fazer os meus espectáculos, como ainda continuo a fazer. Eu trabalho muito para empresas, espectáculos particulares, eventos. E quando o telefone tocou?
Eu e o Filipe já tínhamos falado sobre esta peça, mas não estava a contar fazê-la, embora fosse minha vontade e acho que dele também. Mas as coisas não se tinham encaminhado para aí. Eu fui ver a peça a Londres, com o meu marido, a convite de outras pessoas. Depois soube que o Filipe estava a fazê-la.
E largou tudo?
Não larguei tudo, porque eu tenho outros compromissos e daí o facto de eu ter dito ao Filipe que não poderei estar todos os dias no teatro. Claro que, enquanto houve ensaios, eu tinha espectáculos marcados que não deixei de assumir. Todos os meses faço outros espectáculos para além da “Piaf”, porque sou profissional e essa foi uma condição que eu pus ao Filipe. Ele aceitou, e ainda bem, porque eu gosto muito de fazer este papel. Em dois dias vim para o Porto e só pedi para me deixarem organizar minimamente a minha agenda e a minha vida. Eu adoro estar no Porto. Tanto é que eu gostaria de ficar mais tempo. Fiquei contente porque já não estava à espera de fazer esta peça e sabia que ele a estava a ensaiar com outras pessoas. É inevitável que comparem o seu desempenho com o de Sónia Lisboa na interpretação de “Piaf”.
Como lida com isso?
Não me faz impressão nenhuma, porque não há comparação possível. Não há nem pode haver. Há sempre essa tendência, porque é o mesmo papel, mas eu acho que cada uma de nós faz à sua maneira e a mim não me incomoda de todo. Eu, numa semana, aprendi o meu papel e quando cá cheguei, a Sónia já estava a trabalhar o texto. Já tinham trabalhado um terço da peça.
La Féria combinou alguma estratégia de ensaio entre as duas?
Ajudamo-nos uma à outra. Eu tenho mais experiência do que a Sónia. Este é o primeiro trabalho dela. Sempre que eu achava que devia dizer alguma coisa, dizia. Ela também me foi dizendo alguma coisa porque ela, como já tinha feito alguns ensaios, sabia como é que o Filipe tinha pedido para ser feito e o resto da peça foi marcado comigo. Portanto não houve choque nenhum. Damo-nos lindamente e acho que cada uma conseguiu encontrar o seu caminho para a personagem. Existem várias diferenças, e ainda bem que assim é, mas uma das principais é que a Sónia era muito fã da Piaf, conhecia tudo da Piaf e eu nem tanto. Eu era fã da peça porque já a tinha visto em Londres e fiquei fã. Quando eu não percebia alguma coisa em francês ou não conhecia a canção, ela ajudava-me. Em termos de representação, ela também me pedia algumas ajudas.
Em Lisboa vai passar de 150 para mais de 600 espectadores. Como é que espera que será?
Bem melhor. Eu vou voltar à casa onde me estreei como actriz de musical.
Vai-se sentir mais protegida?
Não. Para mim é um carinho especial. Foi lá que eu comecei. Foi lá que eu anunciei à imprensa e ao público que estava grávida, durante o espectáculo “Animais Nocturnos”. Mostrei a ecografia da minha filha, a Eva. Foi uma forma engraçada de lançar artisticamente a Eva. Foi muito engraçado porque, para não haver “diz-que-disse” e preferências de umas revistas para outras (graças a Deus, sou muito acarinhada pelos media, e tudo o que é revistas e publicações, sempre acompanharam o meu trabalho) eu não quis dar preferência a nenhuma delas. Chamei toda a imprensa, alguns convidados, muitos deles pessoas que foram pagar porque quiseram contribuir e foi uma forma de eu dizer a toda a gente que estava grávida. E acho que o anunciei de uma forma muito original, que nunca hei-de esquecer. Voltar ao Politeama com a “Piaf” e com o meu grande papel até à altura, (porque eu espero vir a crescer mais, porque andar para trás só vale a pena se for para tomar balanço) para mim é significativo obviamente. Mas é mais uma etapa. Não quero dar a importância como se fosse o auge da minha carreira.
O Futuro Para além do que está a preparar para Angra do Heroísmo, quais são os seus projectos depois de La Féria a “libertar”?
Eu nunca digo nunca à primeira. Para já, é pecado. Eu nunca recuso um trabalho logo à partida. Mas também tenho que aceitar coisas que tenham a ver comigo e que eu saiba que o posso fazer bem. Eu acho que o projecto básico pelo qual eu regulo a minha vida é continuar a trabalhar e à procura de projectos interessantes que dêem para a minha sobrevivência. Eu sou uma romântica até certo ponto, porque tenho uma filha para criar. Tenho que trabalhar como qualquer artista e como qualquer pessoa, que não vive dos rendimentos mas do seu trabalho. O meu objectivo principal é continuar a ter trabalho. Agora estou a pensar numa coisa, estou empenhada num projecto. Depois logo se verá.
Sonha fazer televisão a sério?
Nunca fiz televisão a brincar. Foi é esporádico. Mas gostava que pudesse ser mais regular. Gostava de apresentar um programa e tenho a certeza de que tinha capacidades para o fazer. Há muita gente com capacidades para o fazer e portanto não vou para já andar atrás desse sonho, porque o meu maior sonho é estar no palco, é esse que me realiza mais, cantando, dançando e representando. Se a televisão surgir, obviamente que vou sempre pesar os prós e os contras e, se os prós forem mais pesados, pois aceita-se o trabalho.
Porque é que o público deve ir ver a “Piaf”?
Quem gosta de bom teatro deve ir ver a “Piaf”, quem gosta de boa música deve ir ver a “Piaf”. É uma peça muito intensa, muito surpreendente porque para aqueles que criticam o Filipe e gostam de dizer que ele só faz teatro com grandes cenários, podem “tirar o cavalinho da chuva” porque não é assim. E foi com o teatro deste tipo que ele começou na Casa da Comédia. Este é mais um desses casos. Ele gostou tanto de montar esta peça, penso que também um pouco por isso, porque lhe fez recordar os tempos da Casa da Comédia quando, com poucos recursos, fazia coisas fantásticas. É uma peça com um grande elenco, no qual eu me incluo e porque é feito com muito carinho e com muita sensibilidade. O texto é fantástico, a história daquela mulher infelizmente (ou felizmente para nós, que somos artistas, e que agora estamos a representá-la) foi uma vida repleta de dramas e acontecimentos, alguns também engraçados porque a peça não é só drama e tem momentos de boa comédia. Eu acho que a peça vive essencialmente de emoções, que é isso que deixa as pessoas um pouco sideradas quando saem. Algumas pessoas que vêm falar comigo no final, parece que foram atropeladas por um camião. Acho que numa hora e meia foram atropelados pela vida daquela mulher que lhes permitiu rir, chorar, pensar, sentir. E eu acho que isso é o principal no teatro. Vão ver o teatro, a mim e à Sónia e a todo o elenco masculino, quase todo aqui do Porto, e que são miúdos com um talento fantástico e digno de ser notado pelas pessoas. Dou a todos os concelho que a Piaf também dá: amem.

CAIXAS
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CAIXA "A CAIXINHA MÁGICA“Gostava muito de fazer uma novela”E a televisão é motivadora?
É. Eu gosto muito.
Espera fazer mais?
Nós gostamos sempre de fazer mais. Eu gostava de fazer uma novela. Já fiz filmes, tele-filmes, fiz uma série luso-brasileira, fiz teatro para televisão. E fiz também programas recreativos. Gosto muito de fazer televisão e acho que a nossa televisão cada vez está melhor. É das televisões que eu mais gosto de ver no mundo inteiro.
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CAIXA "O CABELO AZUL“Algumas velhinhas benziam-se quando passavam por mim” Durante algum tempo teve o cabelo azul.
Era uma imagem de marca?
Sim, tornou-se uma imagem de marca, mas não era essa a intenção. O cabelo azul surgiu em 1995, na altura em que fiz uma pausa com o Filipe La Féria. Eu sempre gostei de variar os penteados. Comecei a pintar o cabelo no “De Afonso Henriques a Mário Soares”, aonde tinha o cabelo vermelho e preto. Depois, quando deixei de trabalhar com o Filipe, comecei a trabalhar com o costureiro Zé Carlos e, a convite dele apresentei um “Miss Portugal” em 1996. O tema era “Carmen Miranda” e chamamos o Carlos Quintas para apresentar comigo. Eu fazia de Carmen Miranda e apresentei o certame, cantei e dancei e, entretanto comecei a brincar um pouco com os cortes e as cores do cabelo. Acho que rodei o arco-íris todo. Mas gostei de me ver com o azul e foi ficando. Obtive muitas reacções, algumas menos positivas por parte das pessoas que me viam na rua. Mas eu costumo dizer que é como o slogan da Coca-Cola: “primeiro estranha-se e depois entranha-se”. Algumas velhinhas benziam-se quando passavam por mim e hoje em ia já são essas pessoas que me perguntam pelo cabelo azul. Quando fui fazer a “Academia de Famosos”, para a TVI em 2002/2003, consegui impor a minha imagem e o meu trabalho. Todas as semanas eles queriam que eu cantasse canções que estivessem na berra e eu insisti nas músicas de musicais. O que é certo é que isso deu um imenso resultado e todas as semanas eu levava um tema de um musical. Aí, as pessoas pararam de me chamar “a do cabelo azul” para me chamarem “Wanda Stuart”, diziam que gostavam muito do meu trabalho e que, às vezes, até choravam. O cabelo azul passou a ser muito secundário. Tornou-se imagem de marca sem eu querer, as pessoas primeiro reagiram, nem sempre bem, depois começaram a estranhar quando deixei de pintar de azul (quando engravidei) e depois acabaram por me dizer que já gostavam de ver. Hoje, quando me abordam na rua é essencialmente para falar do meu trabalho e, isso, para mim, é o mais importante.
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CAIXA "AÇORES“ As minhas incursões aos Açores são sempre especiais” E nos Açores?
É verdade que tem uma ligação muito forte àquelas ilhas?
É verdade. As minhas incursões aos Açores são sempre especiais. Quando eu fui fazer a reabertura do Teatro Micaelense, com o espectáculo “Os Grandes Mestres do Musical Americano”, conheci o Nelson, o meu marido. Ele vivia lá e depois veio para o Continente. Começou por trabalhar comigo, como meu produtor, cargo que ainda hoje exerce. É o meu manager, o meu grande apoio. Posteriormente começamos a namorar e a viver juntos e, para mim, foi a viagem aos Açores ais importante que fiz na vida. A segunda viagem mais importante foi a estreia da “Piaf”, na Ilha Terceira. Fui muito acarinhada também e o resultado foi o mais positivo possível.
Quer voltar mais vezes aos Açores?
Claro. Eu adorei e gosto imenso dos Açores. Agora quero conhecer também as outras ilhas. Portanto, convites esperam-se. Aliás, a doutora Luísa Brasil (vereadorda da Cultura de Angra do Heroísmo) já tem alguma coisa preparada para mim, só está à espera que eu tenha disponibilidade. E eu gostei tanto dela, que até sou capaz de preparar uma coisa bem especial para ela. Ela é muito dinamizadora e vão perder uma grande vereadora. Mas ela não é uma mulher que entregue as armas e, se não for nos Açores, hei-de trabalhar com ela em qualquer outro local.

Jornal audiencia

http://www.jornalaudiencia.net/aud2008/cultura/wanda-stuart-leva-porto-no-corac-o-de-piaf.html

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